Sinopse
Após o fim da América do Norte, uma nova nação chamada Panem surge. Formada por doze distritos, é comandada com mão de ferro pela Capital. Uma das formas com que demonstram seu poder sobre o resto do carente país é com os Jogos Vorazes, uma competição anual transmitida ao vivo pela televisão, em que um garoto e uma garota de doze a dezoito anos de cada distrito são selecionados e obrigados a lutar até a morte! Para evitar que sua irmã seja a mais nova vítima do programa, Katniss se voluntaria para participar em seu lugar. Vinda do empobrecido distrito 12, ela sabe como sobreviver em um ambiente hostil. Peeta, um garoto que ajudou sua família no passado, também foi selecionado. Caso vença, terá fama e fortuna. Se perder, morre. Mas para ganhar a competição, será preciso muito mais do que habilidade. Até onde Katniss estará disposta a ir para ser vitoriosa nos Jogos Vorazes?A trilogia Jogos Vorazes estava na minha meta de leitura há meses, e em janeiro consegui me dedicar a ela e também assistir (finalmente) o filme campeão de bilheterias. A resenha demorou a sair porque eu quis antes fazer as releituras, do contrário o texto seria feito basicamente de lágrimas e gritos de ódio contra a autora assassina. Mas agora já consegui me acalmar o suficiente para fazer uma crítica decente.
Para facilitar, já que eu estou resenhando três livros em um texto só, vou usar a estrutura Os Sertões: A terra, o homem e a luta. Isso, além de manter o foco, ajuda a caracterizar o mundo distópico.
PS: As frases em cinza claro e entre barra ex: //assim// são spoilers, que foram impossíveis de reprimir pra mim, então só leia se você já tiver lido os livros (todos) ou não tiver problemas em perder as surpresas.
A Terra
Panem é um país tipicamente distópico: arrasado, dividido e isolado de qualquer outra coisa que exista no resto do mundo (levemente parecido com Illéa, de A Seleção, mas muito mais duro). O Capitol (ou Capital, na tradução brasileira) faz o papel de Roma, controlando os distritos e mantendo para si uma aparência de paz e superficialidade.Ao longo da história (principalmente em A Esperança) nós percebemos a verdadeira face do Capitol, um lugar em que apesar da fartura e tranquilidade, tudo é descartável e manter o padrão de vida é complicado, com todos aqueles exageros.
Os demais distritos tem, cada um, sua assinatura particular. Nem todos são mostrados, mas temos noções do que cada um faz. O Distrito 1 com artigos de luxo, o 3 com tecnologia, o 4 e o 5 com pescaria e extração de madeira, respectivamente. Os mais chocantes são os 11 (agricultura) e 12 (mineração); você tem a nítida sensação de que maior o número, maior a distância do distrito ao Capitol e maior o sofrimento da população.
O 11 tem destaque majoritariamente emocional, devido aos tributos que "oferece" nos 74º Jogos Vorazes: Rue e Thresh. Eles adquirem importância para Katniss numa relação de dever, carinho e respeito.
O Distrito 12, onde a protagonista mora, tem uma população pequena, faminta e cansada. Achei interessante que Collins conseguiu capturar muitas características que acometem esses lugares baseados em extrativismo, minha cidade também tem base mineradora e sempre tive a teoria de que a extração intensiva da terra acaba esvaziando um pouco a população também.
O Homem
Katniss Everdeen é uma heroína dura, corajosa e bem treinada. Ao longo dos três livros ela sofre sucessivas perdas e choques, sendo o primeiro antes mesmo de a história começar, quando o pai dela morre nas minas. Essa morte é decisiva na formação do caráter dela, pois é a perda do pai que a faz se isolar das próprias emoções repetidamente, e é também o estopim para dois episódios marcantes: aquele em que Peeta atira para ela um pão e salva toda a família Everdeen da fome e o em que ela resolve seguir os passos do pai e encontra Gale. Peeta, Gale e ela são o triângulo amoroso (ou deveria eu dizer brigoso, porque esse povo só discute) protagonista.A única coisa que eu achei bizarra foi que Katniss, que tinha tudo para ser uma protagonista ativa passou a ser passiva. Acho que até faz sentido no contexto da história, com o Capitol //e os rebeldes// constantemente moldando-a e fazendo dela o que bem entendem, associado ao hábito arraigado que ela já tinha de reprimir opiniões e emoções; mas depois de várias perdas e acidentes (quando acaba a história esse povo não tem mais saúde nem pra cozinhar miojo) ela passar a seguir linhas de pensamento e fazer decisões sem a menor coerência.
OK, eu reclamo mas talvez outra linha fosse ilógica. Todo mundo com um pouco de poder trata a protagonista como se ela fosse burra, decidindo tudo por ela de uma forma tão brusca //Coin manda um oi, essa vaca// que a coitada não consegue decidir direito nem com quem vai ficar no final. Confesso que achei a indecisão exagerada, quer dizer, da hora do quebra-pau desde o início dava pra ver quem combinava mais com a Catnip. //Real <3 OOOWN//
Pausa para comentar os Homis Gatus:
Peeta: Fofo, gracinha, talento, feito para casar, etc. Quando o Haymitch diz que Katniss teria que viver um milhão de vidas para merecer o Peeta, era a mais pura verdade.
Gale: Podia ser legal, mas acho o orgulho de pobre feat. fogo no rabo insuportável. Se ele quer lutar, que lote ora bolas! Mas deixe os outros e em paz e deixe de fazer o Anti-Capitol!
Finnick: #AMO #SOU. Um dos melhores personagens, impossível não amar, mesmo duvidando dele um pouco de início, ele se revela (e faz revelações) bombástico! //PQ TIA SUZANNE PQ//
Cinna: #AMO #SOU também. Meu personagem favorito, empatando com o Finn (apesar da queda que eu tenho pelo Seneca Crane do filme). //PQ ESSE TAMBÉM? SUA AUTORA ASSASSINA//
Cato: Menção honrosa porque eu gosto da atuação do Alexander Ludwig no filme, não que o Cato seja realmente legal, mas eu acho o personagem interessante. //apesar de ter comemorado quando ele morreu HAHA//
A Luta
Ao longo da trama dos três livros há várias lutas: A de Katniss para sobreviver na arena, a luta entre os tributos, luta contra a injustiça e a miséria em toda Panem, a luta contra o poder do Capitol e a luta particular entre Katniss e o Presidente Snow.Na realidade essa luta particular entre eles pode sintetizar tudo o que acontece, já que Snow é o agente central do fascismo do Capitol, controlando desde grandes eventos à vida particular dos tributos. Toda crueldade, cada massacre, assassinato ou fatalidade pode ser direta ou indiretamente creditado ao presidente, mesmo quando não fica muito certo de foi realmente culpa dele //como as bombas aéreas no fim de A Esperança//.
Snow é um vilão perfeito, ofídico e sem remorsos, frio até a medula. Mas do meio para o fim você passa a deixar de acreditar no governo, de forma geral. No momento em que os que lutavam contra o regime do Capitol parecem dispostos a repetir a mesma forma de governo, punindo os inocentes por algo que seus antepassados fizeram, você realmente enxerga a extensão do dano moral e psíquico que os 75 anos de massacres televisionados fizeram nos que participaram e assistiram.
Extra: O Filme
Com direção de Gary Ross e roteiro da própria Suzanne Collins o filme foi um total sucesso de bilheteria e assistindo você consegue perceber o porquê.No melhor estilo Harry Potter o elenco parece que nasceu para o papel, os atores realmente encarnam o personagem. Os adendos (como a maior participação de Seneca Crane e a sala de controle) foram bem encaixados e segundo o diretor serviram para dar a dimensão da história, uma vez que não podendo ouvir os pensamentos de Katniss, podemos ver o que ela descreve e imagina no livro acontecendo de forma paralela ao que ela faz no filme.
Uma vez que você não está presa na cabeça de um só personagem (esse é um problema da narração em primeira pessoa) você tem uma dimensão mais ampla e relaxada da história, já que as coisas não passam por um filtro de opinião pessoal. Nesse sentido o filme é mais agradável que o livro.
Preciso mencionar também o trabalho bem feito de formar a atmosfera dos lugares, com a riqueza e a descontração do Capitol evidentes num piscar de olhos, o controle excessivo no Distrito 11 (eles parecem gados parados sob aquela luz) e a miséria e a fome no Distrito 12, numa das melhores cenas de cinema que já vi nos últimos tempos! Toda a ideia que se tem do lar de Katniss ao longo dos três livros foi sintetizada em alguns quadros com perfeição, mostrando a situação miserável e crítica em que vivem animais e pessoas num país assolado pela guerra e pela tirania.
É isso, espero que não morram de cansaço nesse texto gigante! XX
Jogos Vorazes (The Hunger Games), Em Chamas (Catching Fire) e A Esperança (Mockingjay)
Suzanne Collins
2008, 2009, 2010
Rocco Jovens Leitores / Scholastic
Créditos da imagem do post: Toni De Gea.
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